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Saúde


Ano II - Edição 80 - 27/10/2025 a 02/11/2025

Freepik Estudo da FMUSP aponta impacto da violência doméstica na saúde de mulheres no climatério

Estudo da FMUSP aponta impacto da violência doméstica na saúde de mulheres no climatério


Pesquisa realizada com paciente do HCFMUSP relaciona agressões a doenças ginecológicas e comorbidades crônicas

A violência doméstica é um problema global que atinge uma em cada três mulheres, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e deixa marcas duradouras na vida das vítimas. Um estudo conduzido na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) revelou que mulheres no climatério, período de transição entre a vida reprodutiva e a não reprodutiva, apresentam sequelas significativas quando expostas a esse tipo de agressão, com efeitos diretos na saúde ginecológica, na sexualidade e no bem-estar psicológico.

A pesquisa, intitulada “Sexualidade e saúde mental da mulher climatérica vítima de violência doméstica”, foi conduzida pela mestranda Débora Krakauer, do Programa de Pós-Graduação em Obstetrícia e Ginecologia da FMUSP, sob orientação do Prof. Dr. José Maria Soares Júnior, professor associado e chefe do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da instituição. O estudo avaliou mulheres entre 40 e 65 anos, divididas em dois grupos: vítimas de agressões e participantes sem histórico de abuso.

Consequências na saúde ginecológica

Os resultados mostraram que, em comparação ao grupo controle, as mulheres que sofreram abuso apresentaram taxas mais altas de endometriose (28% contra 10%), infecções ginecológicas (32% contra 10%), incontinência urinária (58% contra 26%) e dor pélvica crônica (82% contra 26%).

Os pesquisadores também destacaram a prevalência de vaginismo entre as participantes vítimas de violência. Enquanto apenas 6% das mulheres sem histórico de agressão relataram o problema, 42% do grupo das vítimas apresentava a condição, que é caracterizada pela contração involuntária da musculatura vaginal, o que dificulta ou impede a relação sexual.

Impactos na sexualidade e na saúde mental

Os dados evidenciam que os abusos deixam marcas duradouras no corpo feminino, afetando a saúde reprodutiva, a saúde mental e a qualidade de vida. A análise da função sexual mostrou que, embora disfunções também tenham sido relatadas no grupo controle, as vítimas de violência apresentaram menor desejo e maior dor durante as relações sexuais. De modo geral, o desconforto sexual foi quase duas vezes mais frequente entre essas mulheres: 76% contra 46%.

As repercussões não se limitaram à esfera ginecológica. O estudo identificou também maior prevalência de doenças crônicas associadas ao estresse. Casos de diabetes foram nove vezes mais comuns entre as vítimas (18% contra 2%), e os de hipertensão arterial, quase o dobro (54% contra 32%). Esses achados sugerem que a violência doméstica impacta o funcionamento metabólico e cardiovascular, reforçando a hipótese de que o estresse crônico decorrente das agressões pode contribuir para o surgimento ou agravamento dessas condições.

“A violência doméstica não se restringe ao momento da agressão. Ela repercute na saúde sexual, reprodutiva, mental e social da vítima. São mulheres que apresentam maior sofrimento físico e psicológico, com impacto em toda sua vida: acadêmica, social, familiar e sexual. O trauma se manifesta nos sintomas no corpo e na mente, deixando danos muitas vezes irreparáveis”, afirma a pesquisadora Débora Krakauer.

Todas as participantes do grupo de estudo relataram ter vivenciado algum tipo de violência ao longo da vida: 74% física, 66% sexual e 80% psicológica. A maioria sofreu agressões na vida adulta e, em 90% dos casos, os episódios foram recorrentes, evidenciando o caráter repetitivo e cumulativo da violência doméstica.

“A violência deixa marcas que não são apenas emocionais, mas também físicas, como dores crônicas, disfunções sexuais e maior incidência de doenças crônicas. É essencial que os profissionais estejam preparados para identificar esses sinais e oferecer um cuidado integral, que abranja desde a prevenção até a reabilitação”, concluiu o Prof. Dr. José Maria Soares Júnior.

Assessoria de Comunicação e Imprensa da FMUSP


Publicado em 23/10/2025

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