O trabalho integra o Projeto Temático Pós-COVID-19: pesquisa com 315 pacientes aponta que ansiedade, depressão e descondicionamento físico são fatores mais relevantes
Um estudo da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e do Hospital das Clínicas da FMUSP revelou que a fadiga crônica em pacientes que tiveram COVID-19 não está necessariamente ligada a lesões nos pulmões.
Esse estudo foi publicado pela revista BMJ Open (antes conhecida como British Medical Journal - uma das mais influentes publicações médico-científicas do mundo que é editada desde 1840). O artigo “Correlação entre fadiga e comprometimento pulmonar na condição pós-COVID-19: um estudo transversal 6–12 meses após a alta hospitalar” relata a condição de 315 pacientes internados no Hospital das Clínicas com quadros moderados ou graves da COVID-19, entre março e agosto de 2020.
O principal achado foi que não existe relação obrigatória entre a fadiga apresentada após a alta hospitalar e eventuais lesões pulmonares. O trabalho integra o Projeto Temático Pós-COVID-19, coordenado pelo Prof. Dr. Carlos Carvalho, professor titular de Pneumologia na FMUSP e diretor da Saúde Digital, e foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP – 2022/01769-5).
A fadiga é uma das queixas mais comuns da condição pós-COVID-19 — também chamada de COVID longa —, que pode incluir sintomas como distúrbios do sono, dificuldade para respirar (dispneia) e dores musculares, persistindo até 12 meses após a alta hospitalar.
Segundo Mateus Satoru Kajiwara, um dos autores do artigo, a investigação buscou esclarecer a possível relação entre fadiga e comprometimento pulmonar. “Vários estudos anteriores mostraram que a fadiga era uma das queixas mais frequentes entre pacientes pós-COVID-19. Como o sistema respiratório foi o alvo principal da doença na fase aguda, para nós era fundamental avaliar se essa fadiga poderia estar relacionada a alguma alteração pulmonar”, explica o pesquisador.
O estudo começou com o contato por telefone dos participantes e a aplicação de um questionário. Com base nas respostas, eles foram divididos em dois grupos: com e sem fadiga. Ao todo, 81 pacientes foram selecionados para consultas presenciais, nas quais realizaram exames como teste de função pulmonar completa (TFP), teste cardiopulmonar de exercício (TECP), tomografia computadorizada do tórax (TC) e avaliação de força muscular.
Os resultados mostraram que 25,7% dos participantes apresentavam fadiga crônica, associada a menor capacidade física e a problemas de saúde mental. “No final, vimos que a piora nas trocas gasosas contribuiu um pouco para a fadiga, mas outros fatores tiveram maior peso, como ansiedade, depressão e descondicionamento físico” - conclui Kajiwara.
Caio Túlio Padula Lamas
Publicado em 15/08/2025