Tema é analisado por especialistas; médicos psiquiatras; fisiatras e psicólogos
Se você ainda associa psiquiatria à loucura, obsessão demoníaca ou distúrbio moral, você está no século errado, estacionou lá atrás, mais precisamente no século 19. Porém, as pessoas do século 20 e 21, principalmente as maduras, na faixa dos 40, 50 anos, viveram uma juventude em que se obrigaram a ser mais do que podiam!! A vencer barreiras, enfrentar desafios e a empunhar a bandeira da autossuficiência. A que custo? Muitas vezes ao custo da ansiedade, depressão, tristeza crônica, cansaço, exaustão... Éramos fortes e inderrotáveis, estudávamos, trabalhávamos, cuidávamos do marido, filhos, casa, mãe, pai, sobrinhos, sogra, sogro e ainda sobrava espaço para passear, ir a academia, cabeleireiro, unhas, mão, pé, depilação, pele, cílios, maquiagem, dietas... Ninguém se assumia exausta, extenuada, absolutamente necessitada de cuidado, atenção e tempo para fazer nada, absolutamente nada, a pausa tão necessária que compõe a melodia da vida.
Mas só as mulheres? E os homens? Para esses sempre foi ainda pior: o rótulo de provedor e as cobranças da sociedade para se portar como chefe da casa, macho, pai, filho, genro, tio, amigo e, acima de tudo, trabalhador nunca deram espaço para “mimimis”, para olhar para o próprio peito e reconhecer a tristeza, a insatisfação, a exaustão, a ansiedade (muitas vezes entorpecida aos finais de semana com bebidas, uma após outra). Engole o choro e segue! Foi o que a maioria aprendeu no século 20.
Além de tantos deveres, boletos e obrigações, com a casa, com os filhos, com as responsabilidades assumidas e os compromissos pendentes, há ainda os sentimentos e pensamentos que concorrem contra. Incertezas, ciúmes, inseguranças, negatividade, pessimismo, são apenas alguns dos desafios íntimos, jamais assumidos.
Mas estamos no século 21, crescemos e hoje vemos o que seria impossível anos atrás: a saúde mental precisa ser cuidada, cultivada, para não faltar. Mas, esse nível de consciência requer auto-observação, autocuidado. Nem sempre as pessoas se dão conta que muitos dos sentimentos cotidianos são sofrimentos psíquicos e que precisam de cuidados. Em lugar disso, muitos resolvem afogar as mágoas, mergulhar nos afazeres de sempre, ou “encher a cara” e sair dirigindo por aí: moto, carro, bicicleta, ajudando a inflar as estatísticas: no Brasil, mais de 10 mil mortes anualmente, milhares de internações e centros de reabilitação abarrotados de pacientes são provenientes da combinação perigosa álcool e direção, que se origina da aflição íntima, da vontade de fugir “não sei de que, não sei pra onde”. Todos sabemos que álcool e direção são impróprios, mas talvez um desejo suicida de acabar com o cenário imutável em que a pessoa se inseriu a leve a adotar posturas insanas e homicidas. Nem sempre é simples reconhecer que precisamos de apoio profissional para o que não damos conta sozinhos.
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*Maria Isabel da Silva é Jornalista no Instituto de Medicina Física e Reabilitação do HCFMUSP
Maria Isabel da Silva
Publicado em 21/08/2025