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Ano II - Edição 65 - 14/07/2025 a 20/07/2025

Profissional da Divisão de Psicologia do ICHC participa de elaboração de Manual Técnico para Atendimento de Indígenas Expostos ao Mercúrio

Profissional da Divisão de Psicologia do ICHC participa de elaboração de Manual Técnico para Atendimento de Indígenas Expostos ao Mercúrio


Documento reúne orientações sobre sintomas clínicos possíveis na população indígena em contato com o metal. Lançamento da publicação aconteceu em Brasília

O Manual Técnico para Atendimento de Indígenas Expostos ao Mercúrio no Brasil foi lançado em Brasília (DF), em maio deste ano. Elaborada por diversos profissionais de saúde, a publicação foi organizada pelos pesquisadores Ana Cláudia Vasconcelos e Paulo Basta, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), pela Secretaria da Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde, com apoio do Ministério dos Povos Indígenas (MPI); e contou com a participação da Neuropsicóloga Mirian Akiko Furutani de Oliveira, Diretora de Pesquisas Clínicas e Epidemiológicas da Divisão de Psicologia do Instituto Central do HCFMUSP (ICHC). 

O documento reúne orientações sobre detecção e sintomas clínicos possíveis na população indígena em contato com o metal. O guia é direcionado a todos os povos que tiveram suas terras invadidas pelo garimpo ilegal de ouro e, de alguma forma, foram afetados pela exposição ao mercúrio. Entre eles, mundurukus e yanomamis. 

Exposição ambiental ao mercúrio 

O mercúrio é utilizado no garimpo para separar o ouro, presente no solo ou na água, por meio da formação de uma liga metálica chamada amálgama. Esse composto é, então, aquecido, e o mercúrio evaporado. 

No entanto, para obter pepitas, joga-se grandes quantidades de mercúrio em áreas próximas a rios, afetando solo, água e toda a cadeia alimentar local. “A gente sabe que o mercúrio, que é depositado no ambiente pelo garimpo de ouro ilegal, entra na cadeia alimentar de quem, principalmente, consome pescado, que é a principal fonte de proteína dos indígenas. Esse mercúrio que fica no ambiente, no rio, é depositado no fundo do rio, e se liga a algas. A alga é comida pelo peixe, e outro peixe maior come esse peixe, e, assim, vai aumentando a quantidade de mercúrio disponível. O indígena vai e come o peixe. E esse mercúrio já saiu do estado metálico e se tornou metilmercúrio. Quando você ingere, ele se deposita no cérebro e em outros órgãos, como coração, fígado. Para o adulto, isso traz consequências neurológicas como dor, depressão, irritabilidade, falta de sensibilidade, além de problemas cardíacos. Se inalar, tem outras complicações”, explica Mirian. 

A indicação da Diretora de Pesquisas Clínicas e Epidemiológicas para integrar a elaboração do Manual Técnico veio de trabalho realizado no ICHC no atendimento a pacientes expostos ao mercúrio ocupacional. Trabalhadores de uma fábrica de lâmpadas receberam tratamento no Instituto após apresentarem sintomas como dor, falta de sensibilidade, irritabilidades, perda de memória, linguagem alterada e problemas depressivos. “Pensou-se na necessidade de se criar um material que explicasse desde a sintomatologia, como fazer a detecção da exposição (coleta de sangue, coleta de urina ou coleta do cabelo). O Manual faz todo esse trajeto: como é que você detecta, quais são os sintomas clínicos possíveis em um adulto”, afirma Mirian. 

Os sintomas da exposição ao mercúrio na população adulta são diferentes dos verificados em recém-nascidos ou crianças em idade escolar. De acordo com a especialista, homens e mulheres já têm o cérebro desenvolvido, enquanto que nos bebês, por exemplo, o contato com o metilmercúrio se dá durante a gestação, afetando o processo de formação do sistema nervoso. Eles podem apresentar atraso no neurodesenvolvimento, dificuldades para começar a falar e andar, e problemas de aprendizagem e relacionamento.

Além do trabalho na elaboração do Manual Técnico, Mirian participou de uma oficina para capacitação dos profissionais de saúde do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Tapajós, no Pará. A ida a campo, realizada no início de junho, envolveu a avaliação e acompanhamento de gestantes e bebês da etnia munduruku. “Demos uma atualização a respeito do andamento do projeto longitudinal, que se iniciou em 2023 e que continuará até 2026”, pontua a neuropsicóloga.


Publicado em 10/07/2025

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